1. INTRODUÇÃO
Nadia Bossa (cit Kiguell 1991; 200, p. 18) “historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional” e no momento atual (2000, p. 18) “à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, sociologia, antropologia, lingüística, epistemologia , o campo da psicopedagogia…” numa perspectiva de compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva.“Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado, nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade” (Charles Chaplim). Então o cérebro é o órgão da atividade mental, encarado como órgão da civilização, órgão que é capaz de refletir todas as complexidades, plasticidades e intrincadas condições do mundo envolvente e todas as manifestações superiores da atividade humana, materializadas no movimento e na linguagem.
Numa perspectiva interdisciplinar a luz da Psicopedagogia tratar-se-á de elucidar uma ambigüidade do termo Hiperatividade, com ou sem déficit de atenção, que surge na infância, meninice ou adolescência como um transtorno na aprendizagem.
A dificuldade no diagnóstico, bem como a transposição dos sintomas podem exacerbar ou contribuir para outros déficits na aprendizagem.
Silver (1989) relembra que antes de 1940, se classificavam as crianças com dificuldades de aprendizagem como “transtornados emocionalmente” (emotionally disturbed), como “retardados mentais” ou como “desvatajados culturais”. Esses transtornos podem produzir, e de fato produzem, dificuldades na aprendizagem, contudo é somente a partir dos anos 40 que se acolhe a possibilidade de causas neurológicas, sugerindo-se às dificuldades ou problemas de aprendizagem causados por dano cerebral, tal como sugerem em 1941, Werner e Straus, ao tratar-se de crianças de “aparência normal.
A idéia surgiu da necessidade de compreender e contribuir nas produções ou distorções do processo ensino-aprendizagem, grande parte nas crianças ansiosas, angustiadas, castigadas, agitadas, irrequietas, hiperativas.
Ouvindo professores, pais, médicos e a própria criança, tentando entender a cabeça e o coração de pessoas ainda tão pequenas que se debatem em um mundo difícil de compreender.
Nesta linha de pensamento a Psicopedagogia não pode ser aplicada sem percorrer um caminho em que é necessário pensar sobre o processo de aprendizagem humana: seus padrões de evolução normais e patológicas, assim como a influência do ambiente (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.
A “Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhes estão implícitos” (cit Neves, 1991, p. 21; Bossa 2000, p. 19)
Diante desta preocupação, a ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, na tentativa de integrá-los e sintetizá-los.
Alícia Fernandez (cit Bossa, 2000, p 24), nos revela que todo sujeito tem a sua forma de aprender, o meio, as condições e limites para conhecer; sua maneira própria, pessoal de desenvolver-se, de constituir seu saber.
Os estudos de Luria revolucionou a psiconeurologia e as demais ciências, com os estudos sobre o cérebro-comportamento. Para Luria a atividade mental humana se processa na interação com as atividades exteriores, estabelecendo novos sistemas funcionais, permitindo-lhe integrar novas formas de percepção, de memória, de pensamento, e de consequentemente, novos processos de organização das ações voluntárias. Há algo de cultural e de sócio-histórico que não pode ser negado.
O desenvolvimento mental da criança não é uma simples maturação dos intuitos naturais; ele desdobra-se no processo da atividade objetiva e na comunicação com os adultos, onde estão contidas a práxis e a linguagem humana. Se, essa atividade e sem essa mediação, a criança não alarga os seus atributos humanos potenciais, e não desenvolve as sus funções psíquicas superiores.
“O ser humano nasce com um cérebro imaturo e inconcluso” (Fonseca, 1984, p50). Então, só alguns processos, como reflexos, estão presentes à nascença; e outros processos dependem da ajuda exterior para organizar-se. A organização da conduta que reflete uma organização psíquica interior, não meramente dependente de estímulos do meio envolvente ou do corpo, mas de sinais que a própria organização psíquica criou e aos quais ela se submete para se unir em termos de atividade mental.
A transformação do mundo exterior, é capaz de desencadear e produzir ações motoras e mentais construtivas, sequenciadas e mediatizadas pelos instrumentos, que o homem imaginou, criou e utilizou, e que está na base da construção da sua “consciência” (Silva, p. 41), verdadeiro substrato do desenvolvimento cerebral e verdadeiro ministério só comparável ao da origem da vida.
A consciência nada mais é que o contato social consigo mesmo, saindo dos limites explicativos subjetivos e biológicos revolucionista, para se projetar nas formas objetivas da vida social e da relação do homem com a natureza, com o meio.
Bossa (cit Dorneles, in Scoz et Allui, 1987; 2000, p. 19), o “fracasso escolar fundamenta-se em discursos que superam o psicológico e negam o pedagógico, pois elas falam de desnutrição, problemas neurológicos e problemas psicológicos”.
“Os transtornos por déficit de atenção e hiperatividade, são incluídos nos transtornos de início de infância, meninice ou adolescência. Trata-se de um padrão de conduta que as crianças e adolescentes apresentam em relação a dificuldades no desenvolvimento da manutenção da atenção, controle de impulsos, assim como a regulagem da conduta motriz em resposta às demandas da situação (Anastopoulos e Barkley, 1992). Historicamente, este tipo de criança foi classificado em categorias como: hipercinesia, ou transtorno por déficit de atenção com ou sem hiperatividade”.
Dentro da grande profusão de livros a respeito das crianças hipercinéticas, notadamente há uma confusão, visto ter-se muitos nomes utilizados para teorizar sobre o “problema”.
Still, demarcou historicamente em 1902, considerando-se problemas de “inibição voluntária” e originados por “dificuldades do controle moral”. Nos anos 30 Childers ou Levin, centraram-se mais no componente hiperativiade motora, considerando-se originador por alterações neurológicas. A idéia do componente motor como foco central do transtorno, persistiu durante os anos 50 e 60, incluindo o extremo ao longo de um contínuo dentro da variabilidade normal, inclusive se abandonando o aspecto causal e assumindo o aspecto da conduta de hiperatividade e motora, passando a chamar-se síndrome hipercinética infantil.
Nos anos 70, reconheceu-se que o problema de atenção ou do controle dos impulsos era ainda mais importante que o de hiperatividade motora, influenciando na mudança operada em 1980 ao propor o transtorno por déficit de atenção com e sem hiperatividade. A crença geral, supõe como problema central, a hiperatividade motora, sendo que casos em que não houvesse hiperatividade, seriam chamados de transtornos por déficit de atenção indiferenciados.
Os sintomas primários, segundo Anastopoulos e Barkley (1992), seriam a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade; além de outros que não seriam tão amplamente aceitos como os déficits na conduta governada por regras ou a variabilidade nos processos executivos.
A prevalência, estaria em torno de 3 e 5%, sendo estável através de diferentes grupos sócio-econômicos e culturais, ainda que se costume encontrar seus meninos para cada menina diagnosticada, contudo estudos mostram que a média é de três meninos para cada menina.
Surge outros problemas secundários ou co-mórbidos, tais como:
1. De conduta, transtornos oposicionais-desafiantes, ou como vandalismo, etc.
2. Implicações emocionais, tais como hipersensibilidade, baixa auto-estima, baixa tolerância à frustração e, inclusive, sintomas de depressão e ansiedade.
3. Problemas de socialização.
4. Problemas familiares, dificuldades na execução acadêmica, apresentando rendimentos menores que os esperados pelo seu potencial estimado, também classificados como disléxicos ou com outras dificuldades de aprendizagem, pelo que muitas crianças com transtorno por déficit de atenção e hiperatividade, (TDAH), são classificadas como aquelas que deverão receber ajuda de programas para educação especial.
5. Habilidades cognitivas e lingüísticas, apresentando, muitos deles, dificuldades nas tarefas de resolução de problemas complexos ou nas habilidades organizativas, e, inclusive, acontecendo freqüentemente problemas de fala e linguagem.
6. Dificuldades com a saúde.
Hoje, assume-se que se trata de um problema diferente das dificuldades de aprendizagem, ainda que, durante o curso do transtorno, apareçam baixos aproveitamentos acadêmicos, mas a falta de atenção, a impulsividade e a hiperatividade motora, ou, inclusive, os problemas advindos nos processos executivos ou nas condutas governadas por regras permitirão que se faça o diagnóstico diferencial. Poderá ocorrer superposição do transtorno com dificuldades de aprendizagem, deverá então ser feito o diagnóstico duplo.
A gagueira poderá advir em 98% dos casos, como uma manifestação excessiva de repetições, dentro da normalidade, nas tentativas da criança, para adquirir a linguagem expressiva e a articulação. Ao tornar-se consciente, começa a desenvolver o medo de falar e uma grande ansiedade nas situações que implicam uma fluidez verbal, o que leva a mecanismos compensatórios do ritmo da linguagem para não gaguejar, a evitar situações comunicativas, a rodeios ou circunlóquios verbais ou evitar palavras ou sons; além disso, aparecem movimentos corporais ante a falta de expressão verbal, como piscar, tiques, tremores, e outros. Surge dificuldades sociais, afetivas, com implicações na personalidade em aspectos como a auto-confiança e a auto-estima. Poderão desenvolver-se na criança, sentimentos de solidão, incompreensão, condutas irônicas, anti-sociais, agressivas, antipáticas e mal-educadas, não pode escutar enquanto escreve, necessita de mais tempo para terminar o trabalho, trabalha mais corretamente o quadro do que no papel, produz trabalhos sujos, com rasuras, em vez de apagar, tem ineficácia no uso do lápis, escreve com os olhos muito próximo do papel, chega muito cedo ou muito tarde à aula, acredita que nem o maior esforço irá levá-la ao êxito, opõe-se ou rechaça ajuda, não capta os códigos sociais e outros. Porém não devemos tirar conclusões apressadas, frente a complexidade dos dados, pois, só a freqüência, a investigação clínica e preventiva é que poderá diagnosticar com segurança a TDAH.
Os educadores se sentem muito incomodados com as crianças hiperativas, pois estas não dão oportunidade de ensinar o que lhes parece importante, além do tumulto nas relações, na convivência com os colegas em sala de aula.
Esta complexidade de situações, bem como a dificuldade na concentração e na atenção, nos direciona a uma atuação multidisciplinar com o psicólogo, psicomotricista, psicopedagogo, psicanalista e outros.
Não podemos nos esquecer do que (Bossa, 2000, p 23) “… a aprendizagem, bem como as leis que regem esse processo: as influências afetivas e as representações inconscientes que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo. É preciso, também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e o que é aprender; como interferem os sistemas e métodos educativos; os problemas estruturais que intervêm no surgimento dos transtornos de aprendizagem e no processo escolar”.
Ainda na tentativa de compreender convenientemente o comportamento da criança hiperativa, não podemos esquecer a relação que existe entre a hiperatividade e o ambiente, isto é, a criança agitada aumenta ou diminui sua inquietação de acordo com as circunstâncias do seu momento. Tarefas e atividades sedentárias, ou muito distantes de seus interesses pessoais, tendem a exacerbar a agitação. Se não entendermos a hiperatividade como um distúrbios de interação, dificilmente encontraremos os meios de evitar suas conseqüências.
Estas crianças, merecem uma parte significativa da nossa paciência e criatividade. “É também injusto dizer que uma criança desatenta nunca planeja uma ação ou que uma criança agitada nunca ficará sentada. A hiperatividade é melhor descrita como provocada por problemas que resultam da falta de consistência do que da inabilidade. A hiperatividade leva a um desempenho incompatível. Em uma dada situação, pode, a criança, prestar atenção, mesmo que alguns minutos depois, ela se distraia num minuto a criança pode estar sentada, escutando o professor, e, não obstante, momentos depois, qualquer coisa insignificante é capaz de distraí-la (Shettini, 1997, p. 108)
“O caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros”. (Bossa, 2000, p. 23)
os sentimentos regulam e estimulam a formação e a evocação de memórias e atenção. São eles que provocam a produção e a interação de hormônios, fazendo com que os estímulos nervosos circulem mais nos neurônios. Graças a esse fenômeno cerebral é mais fácil para uma criança lembrar-se do processo de fotossíntese se ligar esse conteúdo de ciências a uma planta que tem em casa ou à árvore em que costuma subir quando está em casa, na rua, na praça ou na escola. Sair do concreto faz como se fossem fichas de armazenamento, facilitando a consulta. Quanto mais caminhos levarem a elas, mais fácil será o resgate, por isso uma imagem simbólica – associa conceitos, formas, palavras, sons.
Algumas lembranças ficam escondidas porque estamos expostos a mais informações do que conseguimos guardar. Aparentemente perdidas elas ficam num lugar do cérebro chamado inconsciente. Ninguém sabe explicar exatamente por que, mas elas voltam à consciência sem que o indivíduo controle. Pesquisas mostram que isso ocorre em alguma circunstância especial, quando algum fato ou informação evoca lembranças que se julgavam perdidas.
O homem é um na sua complexidade e múltiplo na sua unidade. As dimensões afetiva/desiderativa, racional, a relacional contextual e a relacional interpessoal se articulam e complementam-se, numa dinâmica dialética de interação na construção do ser cognoscente.
“A vida cotidiana é um aprendizado continuo, uma práxis que se encaminha para a transformação. É na práxis que o homem gerencia sua vida, se transforma e modifica o mundo. Na ação transformadora vive sua história e cria perspectivas para o amanhã. (cit Bortolanza, 2002, p.31).
Giroux (1997, 28), as escolas são lugares públicos onde os estudantes aprendem o conhecimento e as habilidades necessárias para viver uma democracia autêntica”. Aprender é correr riscos e provocar transformações sociais; é organizar-se e lutar é reentender o conhecimento para criar uma sociedade mais avançada, que valorize o desenvolvimento humano e as possibilidades de superar as limitações tecnocráticas da educação e as confusões criadas por pensamentos que legitimam uma ideologia cultural, econômica e humana de insucesso escolar.
Saber como os diferentes indivíduos aprendem, como é produzido o conhecimento e como se desenvolve, garante o compromisso com a verdade, com a ética e com os interesses dos cidadãos, alunos.
O sujeito deve ser visto de forma póspectiva , reconhecendo seu saber, seu saber – fazer, suas condições subjetivas e relacionais entre a família, a escola e a sociedade, porém propondo um atendimento não excludente com ação clínica e preventiva, voltada para o desenvolvimento, para as possibilidades do hoje, para a felicidade do amanhã, para o sucesso do educando quer individual ou em grupo, mas voltado a uma ação holística, do ser total, frente ao seu hoje.
“O diagnóstico não completa o olhar interpretativo num diagnóstico: todo o processo terapêutico é também diagnóstico”. (cit Bossa, 2000, p 29). O foco de atuação do Psicopedagogo não só valoriza o espaço físico, onde ocorre o trabalho, mas também o espaço epistemológico que especialmente o vislumbra , frente a lugar de atividade e o modo de abordar o seu objeto de estudo.
Portanto há de considerar-se o trabalho do psicopedagogo na área clínica, preventiva e teórica, numa articulação e complementaridade, que previne o fracasso, quer seja escolar, profissional, pessoal e outros; visando proposições de novas possibilidades de ação, que melhorarão a prática pedagógica nas escolas, e contribuirá na construção do ser que polariza uma pluridimencionalidade, no cerne de seu próprio interesse, de sua própria evolução.
“A escola é … o lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos… Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém, nada de ser como um tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se amarrar nela’! Ora, é lógico… numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. (cit wwwrevistanovaescola).
2. HIPÓTESE DE TRABALHO
Tendo como noção de como ocorre o desenvolvimento da criança e da relação que ela estabelece com os pais e a escola, pudemos alinhar alguns critérios e princípios sobre os quais se apoiam nossa hipótese de trabalho.
Ao falarmos de desenvolvimento, estamos nos referindo a conquistas da evolução pessoal, ligadas ao processo de aprendizagem. Entram aí então: a experiência pessoal da criança com a realidade interna e externa; o contato com as outras pessoas, bem como tudo o que lhe é ensinado; os referenciais que lhe oferecemos e que ela absorve de acordo com a sua capacidade individual de percepção, nos dando uma visão ampla do progresso humano: genético, hereditário, social, relacional, afetivo, econômico, cognitivo e outros.
É a educação que vai possibilitar formas mais aperfeiçoadas ou limitadas de vida para a criança e, consequentemente para o adulto. Está nas mãos do educador, dos pais e da escola boa parte daquilo que uma pessoa poderá ser.
A doutrina freudiana nos ensina que as experiências da primeira infância nos indicam o caminho da auto-estima, bem como da percepção de nós mesmos em relação aos outros. Os primeiros anos são fundamentais para o prosseguimento seguro na vida.
Há momentos que o compasso na aprendizagem aparece de forma conturbada ou distorcida, tumultuando o comportamento infantil e pode ser confundido com patologias.
O ambiente é para a criança o campo em que se processará e se aperfeiçoará seu potencial, propiciando desse modo condições para a transformação das capacidades em habilidades. Todo desenvolvimento é possível graças ao ambiente físico, fisiológico e psicológico, além do externo (tudo o que faz parte da realidade objetiva).
Se pensarmos na atuação dos pais e professores, identificaremos uma verdade simples e de alta relevância: o processo educacional é responsável por uma parte considerável da forma que cada pessoa dará à sua vida. Na prática, o desenvolvimento está, na sua maior parte, nas mãos daqueles que servem de referenciais para a vida da criança. Para os pais e professores não basta ensinar é preciso que vivam as verdades que ensinam, para que as crianças comprovem não só a validade do ensinamento, mas para que vejam também o valor prático do que está aprendendo. A informação, certamente dificultará o aproveitamento mais abrangente do que se aprende.
Quando fala-se sobre a criança na sua relação com o ambiente (e aqui ênfase à sua família e à sua escola) quer se acentuar a ação, a atividade. Sendo esta ação (atividade) entendido como o movimento que dá sentido à vida, aquela que se produz no âmbito da individualidade, na intimidade de cada um, mas também nas relações com o mundo. Restringindo-se a direção a direção a ela imposta pelo indivíduo, não é, simplesmente, produto da genética ou da hereditariedade; ela nasce das interações entre sujeito e objeto e dos modelos e referenciais de que dispõe. Isso quer parecer que as ações da criança são inspiradas no seu contexto ambiental, sobretudo no comportamento das pessoas que a cercam.
Baseando-se nesta constatação, podemos dizer que as crianças acentuam ou diminuem seu interesse por atividades intelectuais ou buscam caminhos destruidores não necessariamente, por deficiência de personalidade, mas como alternativa para fugir de modelos que foram confusos ou desestimuladores para elas.
A tecnologia tem dado excelente contribuição aos processos de aprendizagem, mas não substitui a presença corporal como base do desenvolvimento afetivo-social. É por isso que família e escola se completam para propiciar as condições de aprendizagem no seu sentido mais abrangente e profundo, bem como as nuanças da nossa sociedade econômica e cultural.
As diferenças individuais não são apenas corporais ou intelectuais, são afetivas, psicológicas, sociais, econômicas e outros. As formas de interpretar e sentir o mundo e as pessoas são extremamente individuais e únicas. É verdade que há semelhanças entre as pessoas o que , de certa forma, acentua as diferenças. No entanto são essas diferenças que compõem seu patrimônio pessoal e podem ser aprofundadas com maios ou menor grau de sofrimento à medida que a criança prossegue em sua caminhada de desenvolvimento. Dificuldades podem ocorrer durante sua gestação, nas experiências do nascimento ou nos primeiros anos de vida, na presença do outro, nas relações com o novo, nas experiências escolares, com os caminhos da aprendizagem, no processo dinâmico e dialético de transformação do sujeito, em constante mutação interna e externa.
A experiência com crianças, revela que, as tarefas que exigem movimento corporal, vão num crescente em complexidade, estruturando a ação infantil e o seu pensamento, quando estiver pronta para determinada atividade a criança a realizará. Portanto o domínio do corpo em movimento é um componente progressivo para a autonomia cognitiva e afetiva.
O movimento construirá a expressão gráfica, verbal e funcional do processo de desenvolvimento humano.
O racismo crítico, reflexivo, vai se estruturando na medida que o sujeito age no mundo e estabelece conexões sociais, afetivas e históricas, mediadas pela cultura, numa constante mutação.
As emoções são o instrumento por excelência para uma criança revelar-se como pessoa. Se ela tem dificuldade de se manifestar, de se comunicar através da expressão clara do seu pensamento, tem, em compensação, nas emoções, uma forma de alta eficiência para dar-se a conhecer.
A educação familiar pode estimular o amadurecimento, como pode bloqueá-lo, bem como a escola com sua educação formal, acadêmica.
Muitas vezes a escola interpreta como indisciplina, aquilo que na realidade significa expressão, necessidade de comunicar-se com o grupo, de construir sua liderança, tentando conviver em grupo.
A aprendizagem é dinâmica e requer do aprendiz exercitação do compreendido para que se processe a modificação do comportamento como resultante da incorporação de novas experiências que, por sua vez cria condições favoráveis de evolução.
Grande parte das crianças hiperativas tem dificuldades para estudar e não para aprender. Como ensinar alguma coisa à criança sem a prepararmos para receber o ensinamento e transformá-lo em uma experiência incorporada à sua vida pessoal? As dificuldades seriam reduzidas ou desapareceriam se ensinasse a criança a estudar. Há pré-condições, processos, métodos que dará os instrumentos necessários e eficientes para tal sujeito. Melhorar a motivação e criar condições favoráveis à aceitação dos desafios a aprendizagens mais complexas, sem dúvida pode abrir o caminho para a criança começar a perceber sua relação com o estudo, com uma possibilidade, sem estabelecer mecanismos de resistência ou atropelar suas motivações e interesses. Então ela percebe que aprende com atividades e organiza sua forma própria de aprender.
Hiperatividade dificulta a concentração da atenção. Dessa forma o hiperativo, que apresenta comportamento conturbado, sofre ainda transtornos da aprendizagem resultantes da conseqüente dispersão da atenção.
Por haver necessidade de mais tranqüilidade para aprender, a atuação diversificada de ajuda, é importantíssimo e a avaliação diagnóstica de cada caso é crucial.
A criança hiperativa tem uma relação muito forte com o ambiente, portanto tarefas sedentárias ou muito distantes de seus interesses pessoais tendem exacerbar a agitação. Se não entendermos a hiperatividade como um distúrbio de interação, dificilmente encontraremos os meios de evitar suas conseqüências.
Essas crianças merecem paciência, criatividade, precisa de uma orientação adequada, sobretudo no ambiente da sala de aula, para que consiga o rendimento esperado e consentâneo com sua capacidade de aprender. Se não conseguir poderá isolar-se ou passar a ter problemas com a concentração da atenção. Outras poderão assumir um comportamento oposicionista de desafio e desestruturar o grupo em que estiver.
Para caracterizar um quadro de hiperatividade é necessário um diagnóstico rigoroso, com comportamentos constantes de agitação e distração por motivos diversificados, dificuldade de ficar sentada por tempo prolongado ou para aguardar sua vez no grupo. Deixa sistematicamente tarefas inacabadas, fala incessantemente e compulsivamente, interrompe os outros constantemente e tem dificuldade para escutar o que lhe dizem. Não confundir com características nas crianças de seis anos, por exemplo, que passa por um período de transição normal do desenvolvimento emocional. As dificuldades de interação social é clara e notória; são agressivas, tem baixa popularidade, não mantém amizade. Tem sido sugerido que a criança hiperativa precisa apresentar ou desenvolver, no mínimo três habilidades bem-sucedidas socialmente: participar de jogos com regras, fazer solicitações verbais adequadas e a capacidade de elogiar os outros. No plano terapêutico ensinar um modelo lógico de identificar e solucionar problemas é essencial para sucesso da criança hiperativa.
“A investigação diagnóstica envolve a leitura de um processo complexo, onde todas as ambigüidades de atribuições de sentido a uma série de manifestações conscientes e inconscientes as fazem presentes. Interjogam aí o pessoal, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional, a aprendizagem sistemática, nos leva então a uma linguagem de tratamento e prevenção, articulando-se com a construção de um saber prático-teórico” (Bossa, 2000, 29).
Outro campo também necessário de investigação se dá ao espaço físico onde se dá o trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico.
3. RELEVÂNCIA DA PESQUISA
A forma de abordar o objeto de estudo embasará diretrizes de atuação, quer sejam clínicas, preventivas ou teóricas, bem como o aconselhamento dos pais e a interferência no processo ensino-aprendizagem na escola.
Propõe uma mudança de aprendizagem do sujeito para um novo desenvolvimento das suas potencialidades efetivamente na vivência de atividades voltadas para a ação preventiva, institucional e familiar, adotando uma visão alternativa de melhora do processo ensino-aprendizagem.
A orientação dos estudos será organizado com a elaboração de formas de estudo, com estratégias de apropriação de conteúdos mais grupais e dinâmicos, num contexto de diálogo sobre o pensar e o construir; onde o ato de jogar, brincar, dramatizar, correr, pular, saltar, atenda as necessidades e interesses do aluno, numa significação mais complexa do conhecimento em particular.
O papel de acompanhar a criança, a família, o professor e a escola, fornecerá dados sistemáticos para retroalimentar a proposta e ousar novos caminhos para melhoria da prática pedagógica e o avanço com sucesso dos hiperativos.
E ainda mediará um referencial teórico, para ampliar a questão sob a ótica teórica, terapêutica e preventiva.
O exercício na área educativa permeará todo processo epistemológico problemático e suas variantes psicológicas, pedagógicas, neuropsicológicas, psicalíticas, e outras, que deságuam na construção do EU cognoscente, na fronteira entre o igual e o diferente.
Vale ressaltar que a abordagem de uma escola, professor, criança em particular, desobstruirá na nossa sociedade uma postura de fracasso escolar e lançará novos rumos para uma análise mais cuidadosa dos fatores que podem intervir no processo aprendizagem e no processo de ensino, construindo uma postura multidisciplinar em confronto com a realidade em mudança constante.
Elucidar confusões teórico-práticas no diagnóstico e terapêutica as crianças hiperativas, desmistificando o insucesso, no sucesso da aprendizagem.
4. OBJETIVOS
Geral:
Desenvolver o sujeito hiperativo na sua aprendizagem, frente às suas possibilidades e interesses, numa dinâmica de sucesso.
Específicos:
- Identificar e solucionar problemas componentes da criança hiperativa numa terapêutica de sucesso preventivo, junto aos pais e a escola.
- Construir três habilidade socialmente bem-sucedidas nas crianças hiperativas: participar de jogos com regras, fazer solicitações verbais adequadas e desenvolver a capacidade de elogiar os outros.
5 . METODOLOGIA E MATERIAIS:
Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia, refletindo nas suas bases teóricas, á luz da Pedagogia e da Psicologia, bem como de outras áreas afins para aprender o fenômeno envolvido.
“Essas duas áreas não são suficientes para aprender o objeto de estudo da Psicopedagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e nortear a sua prática. Dessa forma, recorre-se a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, no sentido de alcançar a compreensão desse processo. (Bossa, 2000, p. 25).
Procura-se entender o sujeito total, com suas diferenças, numa articulação e complementariedade afetiva, cognoscientiva , histórica e social, carregado por seu modo de atuar no mundo, de operar, enquanto ideologia que instaura a operatividade ou a alienação inoperante.
“A psicopedagogia terapêutica é um campo de conhecimento relativamente novo que surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia”. (Bossa, 2000, p 25-26).
O foco será investido numa pesquisa de campo por amostragem de uma Escola Pública da Rede Municipal do Recife, Escola Professor Júlio de Oliveira, na turma de 1º ano do 1º ciclo, correspondente a alfabetização regular.
Será elaborado uma entrevista com os professores do 1º ano do 1º ciclo, com os pais e com as crianças, para realização do diagnóstico, bem como observação das crianças na sala de aula, no recreio e em casa.
Mostrar-se-á uma proposta experimental para subsidiar o trabalho o trabalho docente e discente, em atividades, interesses e necessidades a serem desenvolvidas com ajuda do coordenador pedagógico.
Com base nos dados do aluno, do professor, da família e da escola, o diagnóstico preventivo terapêutico será proposto para o sucesso da aprendizagem nas crianças hiperativas comprovadamente.
As limitações nesta metodologia se faz presente, no acompanhamento dos pais; na participação e envolvimento do professor bem como na mudança metodológica;
No processo de mudança do aluno e na incorporação das três condutas sociais para o sucesso do discente hiperativo socialmente.
Todo processo deverá ser registrado e ficha de acompanhamento individual do aluno; como também as entrevistas realizadas com os pais e professores; o desempenho do aluno na sala de aula, frente os desafios propostos em atividades de grupo e individual, que serão expostos em gráficos e tabelas para avaliação e redirecionamento do processo terapêutico e de sucesso na aprendizagem.
O material a ser utilizado será o humano, teórico, prático, a análise da situação física do prédio escolar, e do em torno da escola e das famílias elencadas .
Será necessário material de expediente leve, colorido, personalizado, versátil e de fácil transporte para montagem das entrevistas, fichas de acompanhamento, montagem de gráficos e tabelas, atividades propostas para aprendizagem de acordo com interesse e necessidade da criança hiperativa. Sala de aula adequada, com dinâmica, intrinsecamente motivadora, na forma, estrutura e composição apropriada ao hiperativo, sala para encontro com pais e professores para reflexão sobre o processo terapêutico preventivo e de ensino-aprendizagem do aluno; e sala para entrevista e observação do aluno hiperativo. Ficha síntese do processo e encaminhamentos futuros.
As atividades montadas para possibilitar avanços na aprendizagem do hiperativo devem estabelecer relações entre os novos conteúdos e os aprendizados anteriores, para que a informação seja evocada mais facilmente pelo reconhecimento; criar situações que envolvam elaborações mentais com sons, imagens, fantasias, significados e (por que não) humor permitindo que várias áreas do cérebro trabalhem simultaneamente no resgate de informações e estímulo da atenção; utilização de gráficos, diagramas, tabelas, cronogramas para classificar as informações fazendo com que o cérebro tenha mais facilidade para armazená-las e, portanto, resgate-as com mais facilidade; reservar os últimos minutos a aula para conversar sobre o que se estudo, que conhecimento novo aprendeu, assim eles fazem uma leitura do que aprenderam; usar brincadeiras, dramatizações e jogos para levar à emoção favorecendo a aprendizagem. Isso só funciona se houver relação entre o conteúdo e a situação lúdica. Explorar as atividades com dinâmica visual e oral, utilizando material concreto para estimular o raciocínio abstrato. Desenvolver técnicas de sensibilização e relaxação, fortalecendo a atenção e explorando tarefas de manipulação intracorporal e extracorporal, com relevância para o processamento de informações, desde a ação até a abstração e generalização, no controle da postura e do movimento corporal, numa sinergia de interação mente e corpo, corpo e mente, objeto-ação-pensamento e vice-versa.
O estudo do comportamento humano e, por conseguinte, do desenvolvimento psiconeurológico exige cada vez mais a integração de dados evolutivos filogenéticos, ontogenéticos, sociogenéticos e microgenéticos coerentes, numa dialética de complementariedade e articulação desde ação, até a simbolização, mergulhada num envolvimento emocional, moral e semiótico cada vez mais complexo.
6. RESULTADOS ESPERADOS
As relações cérebro-comportamento sofre influências sociais, políticas, filosóficas, econômicas, históricas, emocionais, culturais, numa perspectiva holística que envolve o trabalho de sucesso na aprendizagem das crianças hiperativas.
Os estudos teóricos e práticos desta pesquisa maximizará os potenciais da aprendizagem numa dimensão terapêutica-diagnóstica preventiva e multidisciplinar.
Ao longo do processo, damos conta que cada nível de organização possui propriedades únicas de estruturação e de comportamento, que por sua vez são dependentes das próprias propriedades dos elementos constituintes, elementos esses que só aparecem na evolução, quando combinados em novos sistemas.
O conhecimento dos processos de aprendizagem na criança hiperativa, podem ser de uma importância significativa para melhor organizar-se, estruturar-se e provavelmente incluir-se ativamente na sociedade como cidadão autônomo e integrado, na busca de realizações, felicidade e sucesso, em meio ao foco do ambiente interno e externo do sujeito cognoscente, como também a análise da estrutura de funcionamento que origina os comportamentos.
O fracasso escolar dos hiperativos deve-se à falta de motivação à instrução inadequada (dispedagogia, desvantagens culturais, sociais, econômicas, legitimação de rótulos, pouca pesquisa na área e redução do impacto político nas esferas sociais do país.
O sistema família, escola, fatores sociais, econômicos e culturais, afetivos e psicológicos, podem desordenar os processos de aprendizagem, reduzindo a complexidade da questão num rótulo, potencializado pela conduta imperativa, agitada e hiperativa.
Garcia (1998, p. 76), “Os transtornos hiperativos aparece em 98% das crianças entre os dois e os sete anos, porém apenas de 3 a 5% continuam após esta idade, e sem características de lesões cerebrais. Um percentual de 20% dessas crianças hiperativas são superdotadas, 70% apresentam quoeficiente de inteligência dentro dos padrões da normalidade”.
A acumulação de frustrações, de ansiedades, de agressões, de depressões e de insucessos é atividade por um sistema escolar que insiste na maturação precoce.
A verdadeira escola deve nortear-se pelo sentimento, maturidade estrutural com pré-aptidões para aprendizagem escolar, amor, segurança, apoio da família, confiança, encorajamento e sucesso insubstituíveis à personalidade da criança e como missão do ensino preventivo e revelador do desenvolvimento biopsicossocial das ações e das condutas que envolvem o processo de desenvolvimento humano.
É interessante notar que a falta de êxito escolar é um passaporte par a delinqüência e para as condutas sócio patológicas. O êxito escolar é um sinal de higiene mental; êxito na escola quer dizer, quase sempre, êxito na vida social. A criança é um ser com uma história dentro de outra história, e para isso o professor deve munir-se de meios que permitam observá-la no seu “holos”.
Para melhorar os produtos da aprendizagem, aquilo que no fundo conta para a escola, é necessário que se resolva o “caos interno”, onde os desequilíbrios emocionais assumem papel de relevante importância nos processos psicológicos da aprendizagem.
A criança hiperativa corre o risco de se tornar um adulto desajustado, desmotivado, desempregado, rebelde, apático, não identificado, etc., independentemente de no seio emergirem valores como: Einstein (só aos 4 anos começa a falar e só aos sete inicia a leitura), Newton (considerado aluno de fracos sucessos), Beethoven (o professor de música chegou a dizer-lhe que como compositor não havia hipótese), Abraham Licoln (desprovido da carreira militar), Winston Churchill (repetente na escola primária) , Thomas Edison (seus professores consideravam-no estúpido para aprender o que quer que fosse), Walt Disney (seu editor chegou a confessar que ele não tinha boas idéias), etc. Quantos desses valores humanos se continuarão a perder se não se modificar a função da escola e a problemática do insucesso escolar?
”